terça-feira, 23 de junho de 2009

Escolhas e relações familiares, implicações e conseqüências

Vivemos um tempo marcado por profundas, contínuas e aceleradas mudanças, pelo pluralismo de concepções em todas as áreas de conhecimento, pelos avanços científicos e tecnológicos em todos os campos de atuação humana, pela valorização cada vez maior da autonomia, da iniciativa, da criatividade e, naturalmente, por crises decorrentes dessa nova realidade. São tantas idéias circulando, são tantas tendências se confrontando, são tantos os produtos a nossa disposição que as escutas e as escolhas se transformaram em caminhos de incertezas, de perplexidades, de paradoxos, no dia a dia das pessoas.
Dentro deste contexto, está a família e no seio dela está o casal com dois papéis a cumprir (pai e mãe, marido e mulher) e estão os filhos. Hoje existe uma variada bibliografia a respeito de como viver melhor o papel de pai e de mãe. E também outra variedade de livros que pretendem ensinar como manter saudável o relacionamento entre marido e mulher. Porém nunca estivemos tão perdidos em relação ao como agir, não temos muitas certezas em relação ao exercício destes papéis. A realidade atual tem nos mostrado que não temos tido muito êxito: muitos relacionamentos desfeitos e pais e filhos com muitas dificuldades: crianças que não lidam bem com as frustrações, adolescentes violentos e jovens com dificuldades de conquistar a sua autonomia em relação aos pais.
Ao refletir sobre essas questões me deparo com a minha experiência profissional e com a minha experiência como mãe e observo que há uma habilidade que não estamos conseguindo ensinar: a habilidade de escolher. Fazer escolhas; Talvez seja a tarefa mais difícil para o a sociedade neste momento. Pois é preciso escolher também o comprometimento com o outro e o exercício da paternidade e da maternidade. Serão escolhas que de certa forma moldarão o nosso destino, nos indicando um caminho.
No caso de escolhermos o papel de pais, temos que ter consciência da seriedade deste ato: uma vez que se opta por gerar um filho, vivemos uma responsabilidade da qual não poderemos abrir mão.
Segundo Bruno Bettelheim, a tarefa mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida. Isso quer dizer que ao gerar um filho precisamos ajudá-lo a dar um sentido para a sua vida, algo que o faça querer crescer, querer viver. É preciso que ele possa sentir que a vida vale a pena ser vivida, é preciso ensiná-lo a enfrentar as dificuldades e frustrações da vida com tranqüilidade e fé. Será que essa é uma tarefa fácil? Respondo como mãe, mulher e profissional, que sou, que talvez seja o desafio mais importante das nossas vidas e também o mais difícil. Porque não nascemos “pais” e nem “mães”, nascemos “filhos”. Só nos tornamos pais diante do parto. A cada parto nasce não só um filho, com ele nasce também, um pai e uma mãe. A partir da experiência do parto, o filho é apresentado aos pais e os pais ao filho. Ali pode nascer uma relação amorosa baseada em troca de olhares e afetos. Esperamos que ocorra o amor a 1ª vista! Quem conseguiu entender a dimensão deste momento não consegue expressar o sentimento de olhar pela 1ª vez o seu filho e ao olhá-lo sentir algo tão grandioso! Como explicar a riqueza dos primeiros afagos, os primeiros toques, o prazer mútuo da amamentação?
A psicologia tem nos mostrado que, em grande parte a nossa experiência de filhos determinará a forma como exerceremos nossa paternidade e maternidade, aquilo que vivenciamos lá na 1ª infância, nos ajudará a exercer melhor este papel. Também nos ajudará a sermos marido e mulher, porque sim, são dois papéis muito diferentes e ao mesmo tempo complementares. É no seio das relações familiares que poderemos estar contribuindo ou não para a criação de pessoas mais felizes. Segundo o escritor Irvin D. Yalon, “O amor entre os pais gera amor pelos filhos, quanto mais se ama mais isso se reflete nos filhos e nos outros de uma forma afetuosa.
Portanto a primeira escolha e a mais significativa deveria ser a escolha da pessoa amada. Deveríamos pensar: “Escolho amar essa pessoa e com ela escolho ter os meus filhos”? Uma vez feita essa escolha, será definitiva, pois o casal (marido e mulher) poderá terminar, mas o pai e a mãe permanecerão. Pais e mães jamais se separarão, eles estão unidos por toda a eternidade. Querem ver como isso é verdade: existem quatro aspectos indissociáveis ao gerarmos um filho e que nos une para sempre. Um filho nos une do ponto de vista biológico, não podemos por ocasião do divórcio, pedir os nossos “gens” de volta, eles estarão unidos para sempre naquelas células e na sua descendência. Também não há como apagar o aspecto afetivo que gerou este filho foi um momento de amor ou de prazer, estamos falando de relações de “escolhas”, não se aplica a atos forçados. Para quem acredita na dimensão espiritual, Deus utilizou-se de duas almas para criar mais uma, o sopro de vida, que como muitos crêem é imortal. E se ainda assim não estão convencidos cito que do ponto de vista social, existe o registro de nascimento que estará para sempre marcado na história da humanidade.
Para concluir proponho que pensemos nas nossas escolhas e também proponho que em casa exercitemos o diálogo na tomada de decisões. Proponho que desde cedo as crianças sejam encorajadas a pensar nas suas escolhas, dentro das suas capacidades e possibilidades. Proponho também que façamos o exercício de escolher amar o nosso cônjuge todos os dias e conseqüentemente os nossos filhos. Creio que aí, pode estar um caminho um pouco mais fácil de percorrer.

Luciane Bernardes da Silva
Pedagoga

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Pais Maus

A Simone, mãe do Mateus e do Pedro, encaminhou a seguinte mensagem à escola:

Quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes: Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado e dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queremos pagar”.

Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração. Mais do que tudo: Eu os amei o suficiente para dizer-lhes“não”, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso, e alguns momentos até me odiaram. Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.

Estamos contentes, vencemos! Porque no final vocês venceram também!

E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães; quando eles lhes perguntarem se seus pais eram maus, meus filhos vão lhes dizer: “Sim, nossos pais eram maus. Eram os pais mais malvados do mundo.”

As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer pão, frutas e vitaminas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne e legumes. E eles nos obrigavam a jantar à mesa, bem diferente dos outros pais que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.

Eles insistiam em saber onde estávamos à toda hora. Era quase uma prisão. Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Papai insistia para que lhe disséssemos com quem iríamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.

Nós tínhamos vergonha de admitir, maseles “violavam as leis do trabalho infantil”. Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruel. Eu acho que eles nem dormiam à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Eles insistiam sempre conosco para que disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos.

A nossa vida era mesmo chata. Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde. O papai, aquele chato, levantava para saber se a festa foi boa só para ver como estávamos ao voltar.

Por causa de nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência: Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa deles.

Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo de tudo para sermos “PAIS MAUS”, como os nossos foram.

Dr. Carlos Hecktheuer
Médico Psiquiatra
Passo Fundo - RS
crhecktheuer@tpo.com.br