domingo, 16 de maio de 2010

Para aliviar a culpa...

Este Texto da Diana Corso, nos lembra que os nossos filhos precisam de mães. Mas de carne e osso. A identidade de uma criança também necessita de ausências...

Mães de porta de escola

Na porta da escola das minhas filhas, incontáveis vezes escutei as outras mães combinando horários, prazos e conteúdo de trabalhos dos filhos, assim como resultados de provas, ou dificuldades em realizar determinada tarefa, como se fossem suas. São elas que chamo de mães de porta de escola. Isso sem falar nas feiras, exposições ou quermesses, para as quais eu sempre chegava com os itens solicitados, mas saía com a sensação de que não era bem isso. Participei como pude da gincana de horários e tarefas a que os pais são submetidos, nas apresentações musicais e de teatro, nas festas religiosas e apresentações que frequentemente eram feitas no meio da semana e do expediente.

Eu não era uma mãe diferente das outras, a maior parte das mães que encontrei também trabalhava, todas davam seu melhor, mas sempre havia aquelas que pareciam estar sabendo informações imprescindíveis, que nos faltavam. Pertenci à categoria das mães que, pela sua presença apressada na escola, pensam que estão em falta com a maternidade ideal, nesse caso representada pelas mães de porta de escola. A solicitude destas, cujas boas intenções são indiscutíveis, lembra às outras, que se sentem vexadas e omissas, que o futuro do seu filho está nas mãos do desempenho escolar dele, e que ela não o está ajudando adequadamente. Esse problema começa cedo: se inaugura com cada colagem de figuras de revista ou maquete de sucata do jardim de infância.

Os psicanalistas usam o conceito de “mãe suficientemente boa”. Gosto dele justamente pela palavra “suficiente”, que é diferente de “plenamente” ou “totalmente”. Com ele, descreve-se a função materna e a forma como seu olhar e voz constituem a subjetividade do filho. Mas também evoca que é exatamente nos momentos de necessária ausência da mãe que se gera no filho o espaço para fazer sozinho o que ninguém pode fazer por ele. O filho precisa se empenhar em seu próprio trabalho de compreender o mundo a seu modo e a si mesmo como uma pessoa em particular, descobrir que ele continua existindo mesmo quando está só.

A todas as mães que se sentem em falta, gostaria de dizer que as mães de porta de escola até podem existir, mas elas são grandes mesmo é no nosso pesadelo. Neste, somos insuficientes em todos os territórios, na presença afetiva e na preparação dos nossos filhos para a disputa pelo prestígio que enfrentarão no futuro. Mães ocupadas de todo o mundo, uni-vos! E relaxem, vocês são boas mães. Um filho se constitui de presenças e ausências, a sabedoria nesse caso está na dose certa.

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